13 de maio de 2013

Superintendente do Senar-PB fala sobre desafios do setor


Ascom Senar-PB
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“O sertanejo é antes de tudo um forte”, escreveu Euclides da Cunha no começo do século XX, em sua obra imortal “Os Sertões”. Passados 100 anos, o sertanejo de hoje, castigado pela seca e pela falta de acesso à educação e à tecnologia, é antes de tudo, um dependente de políticas públicas eficientes que melhorem sua produção e sua qualidade de vida no campo.
Na Paraíba, a situação do homem do campo não é diferente, embora seu progresso seja bem avaliado pelo Senar – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural. “Por mais sofrida que possa parecer a imagem que temos da Paraíba, nosso Estado não deixa a desejar. Somos, pela segunda vez, primeiro lugar na arrecadação dos contribuintes rurais em todo o Nordeste, e isso é fantástico”, avaliou Sérgio Martins, o superintendente do órgão no Estado.
Em entrevista ao Paraíba Total, ele destacou os projetos de atuação do Senar-PB, analisou os gargalos que travam o desenvolvimento do meio rural e apontou algumas saídas para melhorar a vida do homem do campo. “A nossa maior dificuldade atualmente é fazer com que o produtor rural acredite na ideia de associativismo e cooperativismo. Estamos conseguindo, aos poucos, plantar esse sentimento de coletividade no nosso público, pois só assim é possível projetar um crescimento relativamente notável em suas produções”, explicou.
Formado em História e em Direito, com pós-graduação em Direito do Trabalho e em Direito e Gestão dos Serviços Sociais Autônomos, Sérgio Martins adiantou o lançamento do ‘Viver Bem no Semiárido’, projeto que será lançado no dia 24 de maio em João Pessoa, em uma tentativa de modificar o modo como o produtor age no meio rural diante do ciclo da seca – um problema que atingiu 100% da produção na agricultura. ”Mais que discutir sobre a seca é preciso agir efetivamente em busca de novas tecnologias que proporcionem a convivência do produtor com a seca”, afirmou.
Abaixo, a entrevista completa.
Qual o papel do Senar e suas principais missões junto ao desenvolvimento regional e qual a relação direta ou indireta do órgão com a qualidade de vida do homem do campo?
O Senar tem como missão desenvolver ações da Formação Profissional Rural (FPR) e atividades da Promoção Social (PS) voltadas às pessoas do meio rural, contribuindo para sua profissionalização, sua integração na sociedade, melhoria da sua qualidade de vida e para pleno exercício da cidadania. Ele tem como objetivo organizar, administrar e executar, em todo o Estado, treinamentos e cursos para jovens e adultos, homens e mulheres que exerçam atividades no meio rural. Desta maneira, visa formar cidadãos, por meio da transferência de conhecimento, capacitação e formação profissional, promovendo, consequentemente, a melhoria da qualidade de vida e o bem-estar social.
A capacitação profissional dos diferentes públicos do meio rural é um dos objetivos do Senar. Que balanço o senhor faz dos serviços prestados à população pelo órgão na Paraíba?
O Senar-PB é de grande importância, já que capacita pessoas que vivem da atividade primária, pessoas que sustentam a cadeia produtiva da população. O nosso público é diverso, mas todos têm algo em comum: o baixo nível no grau de instrução. Esse elemento nos preocupa, pois muitas vezes os nossos produtores têm dificuldades de acompanhar a capacitação que propomos. É por isso que o Senar-PB estuda minuciosamente a sua metodologia, para que ela seja eficiente e que o nosso público alvo possa absorver ao máximo todo conhecimento social e de novas tecnologias que lançamos em nossos cursos e treinamentos. Nossa instituição é preparada para atender todos os públicos com suas necessidades peculiares. Entendemos que a capacitação no meio rural, por mais dificultosa que possa ser, é necessária para que haja o desenvolvimento da produção agropecuária na nossa região e o Senar-PB cumpre bem esse papel.
O Senar está presente em todos os estados brasileiros. O senhor, que veio de Pernambuco, pode nos dizer como são os resultados da Paraíba, se comparado a outros estados?
Por mais sofrida que possa parecer a imagem que temos da Paraíba, nosso estado não deixa a desejar frente aos demais que compõem o Nordeste. Nossos produtores, nossos cursos, treinamentos, nossos projetos e metodologia são destaques na nossa região porque são ousados e propõem ao setor rural o avanço que parece contrário a realidade abraçada pela seca que nos assola. Somos, pela segunda vez, primeiro lugar na arrecadação dos contribuintes rurais em todo o Nordeste, e isso é fantástico, pois essa arrecadação é revertida em serviços que a instituição presta para o próprio homem do campo. Nossas metas vêm sendo atingidas e superadas a todo o momento, o que impulsiona ainda mais o nosso crescimento e nos equipara a outros estados vizinhos.
Quais os principais desafios e gargalos no meio rural paraibano, na avaliação do senhor?
A nossa maior dificuldade atualmente é fazer com que o produtor rural acredite na ideia de associativismo e cooperativismo. Estamos conseguindo, aos poucos, plantar esse sentimento de coletividade no nosso público, pois só assim é possível projetar um crescimento relativamente notável em suas produções. A falta de esperança do produtor, causada pelo endividamento rural, pelos efeitos da estiagem, pela falta de incentivos e políticas públicas eficientes, é uma das maiores barreiras que enfrentamos hoje em nossa instituição. Mas o Senar-PB tenta, em todas as suas ações, modificar essa atitude do produtor rural paraibano, semeando não só a esperança de dias melhores, mas mostrando que é possível, através do investimento em conhecimento e tecnologia, expandir seu negócio agropecuário. Além dessa barreira, voltamos a esbarrar na questão do analfabetismo e nível de instrução escolar. Alguns cursos que oferecemos exigem do produtor um conhecimento básico que muitas vezes ele não possui e isso dificulta a nossa capacitação. Mas são problemas que atingem praticamente todas as zonas rurais do nosso país, principalmente no Nordeste. É uma “patologia” que carregamos e combatemos desde sempre e continuaremos trabalhando para mudar esse quadro.
Quando o senhor tomou posse, disse que “o grande desafio do setor agropecuário era é criar mecanismos de convivência com a seca”. Como o senhor avalia as ações de prevenção e enfrentamento efetuadas pelos diversos órgãos ligados ao meio rural? Como foi o posicionamento do Senar em relação ao combate à seca?
A Paraíba é um dos estados mais afetados pela seca no Nordeste. Perdemos cerca de 70% dos nossos animais, dizimados pela falta de chuva na região e 100% da produção na agricultura. Conviver com a seca é difícil, mas não é impossível e desde 2012 o Senar-PB vem estudando projetos, buscando parcerias e despertando a realidade nas autoridades para que elas enxerguem e – mais importante – ajam em prol de uma mudança significativa relacionada à seca. O grande problema da seca são as sobreposições de recursos e as ações emergenciais e paliativas que, já não são ou nunca foram, veridicamente eficientes. Mais que discutir sobre a seca é preciso agir efetivamente em busca de novas tecnologias que proporcionem a convivência do produtor com a seca. O Viver Bem no Semiárido é um exemplo disso. O projeto, que será lançado no próximo dia 24 de maio aqui em João Pessoa, é uma tentativa legítima de modificar o modo como o produtor age no meio rural diante deste quadro. Este e outros programas que o Senar-PB propõe são ações plausíveis para adaptar o homem do campo ao ciclo da seca sem que esse deixe de produzir.
Existe alguma integração ou parceria do Senar com órgãos, como Sebrae, Emater, municípios e sindicatos?
Para desenvolver suas ações de forma eficiente e abrangente, o Senar-PB trabalha constantemente por meio de parcerias com diversas instituições do setor rural e outros setores, sempre com o objetivo de levar conhecimento, tecnologia e informação ao maior número possível de produtores rurais no estado. Estas parcerias acontecem por meio de convênios, termos de acordo e outros importantes instrumentos que proporcionam a execução de ações de forma e com recursos compartilhados com outras instituições privadas ou públicas. Os Sindicatos Rurais do estado da Paraíba são os parceiros naturais é a partir deles que chegam à instituição, todos os dias, as demandas e necessidades do setor agropecuário do estado, por meio das solicitações de cursos, treinamentos e outros eventos. Além dos Sindicatos, o Senar-PB também tem como parceiros o Sebrae-PB, com quem executa dois importantes projetos com foco no empreendedorismo, o Programa Empreendedor Rural e o Negócio Certo Rural; Prefeituras municipais; Secretaria de Educação; Instituto Federal da Paraíba (IFPB), Ministério da Agricultura, Fundação Banco do Brasil, Sedap, entre outros.
O Senar teve uma importante iniciativa de criar um prêmio de jornalismo que incentiva profissionais da imprensa a jogar luz sobre o homem do campo. Como foi a edição e quais as expectativas para os próximos anos?
O Prêmio Faepa/Senar-PB de Jornalismo veio encurtar a distância que havia entre o meio rural e os profissionais da imprensa. Com a primeira edição do prêmio, nós conseguimos quebrar o ciclo de só se mostrar o óbvio do setor. Ao premiar os melhores trabalhos impressos, televisivos, radiofônicos e fotográficos, nós valorizamos os profissionais de comunicação e resgatamos um vínculo com eles há muito esquecido, ao mesmo tempo em que divulgamos e prestigiamos setor agropecuário da Paraíba. O prêmio beneficia não só os profissionais da imprensa, mas a população em geral, que tem a oportunidade de conhecer a fundo todas as vertentes do campo, os problemas, os avanços, as novas tecnologias e o investimento que instituições como a nossa fazem na área. A primeira edição teve uma repercussão maior do que prevíamos e o resultado foi a inscrição de 24 trabalhos riquíssimos em cinco categorias e uma elogiada premiação dos melhores trabalhos. A próxima edição do prêmio será em 2014, já que o prêmio é bianual, e, devido ao grande interesse da mídia após a primeira edição, estamos certo que a 2ª edição do Prêmio Faepa/Senar-PB de Jornalismo terá um sucesso ainda maior.
Em termos de futuro, quais as principais metas do Senar para os próximos anos?
Nosso plano de futuro é promover o desenvolvimento do setor agropecuário da Paraíba por meio da educação e profissionalização das pessoas do campo. É tirar o produtor rural da informalidade e do amadorismo, incentivando a profissionalização, o empreendedorismo, o associativismo e cooperativismo, promovendo a formação de cidadãos com cada vez mais conteúdo e poder de decisão. Nossa meta é promover uma mudança de atitude e consequentemente o fortalecimento do setor, tornando-o, cada vez mais, produtivo, eficiente, sustentável, lucrativo e independente.
Algo mais a acrescentar aos leitores do Paraíba Total?
O Senar-PB está de portas abertas para receber e atender a todos os produtores rurais do nosso estado. Além da nossa sede, é possível se orientar sobre o setor através dos Sindicatos Rurais de cada município. Informações sobre nossos cursos, treinamentos, metodologias e equipe podem ser encontradas em nosso site através do link www.senarpb.com.br . Lembramos que a nossa missão é capacitar o homem do campo para que esse possa expandir os seus limites. Acreditamos que ele aprende a fazer, fazendo. 
Fonte: Paraíba Total